quarta-feira, 1 de outubro de 2008

(dos dias que espancam doído...)

Às vezes, quando estou esperando alguém de casa tirar toda a roupa do varal, fico olhando pra esse aquário. Não sei quem o comprou. A gente aqui de casa é cheia de surpresas. Silenciosas, mas surpresa. O aquário é redondo, numa obviedade lúdica, e tem no fundo um caminhozinho de pedrinhas amarelinhas, luminosas. (Adoro quando o lúdico consegue furar o cimento dos dias). O peixe que vive nele, que também por um excesso simples de abandono natural do pessoal daqui de casa eu tornei-o meu, chama-se Dorothy. Porque é uma delícia vê-lo caminhar pela estrada aquosa de tijolinhos amarelos. Meu peixe caminha sim, tem aspirações de humano, ingenuamente. Então eu o vejo acenar pra mim, me cumprimentar com uma elegância assustadora, como toda elegância. Vejo-o buscando em meus olhos as palavras certas, a senha mágica que o transformará numa menina tola e acompanhada de animais e lataria falante. Outro dia joguei três daquelas bolinhas que a gente tira de máquina de bolinhas por um real dentro do aquário. Achei que ficariam mais bonitas do que realmente ficaram. Bola tem de pular. Então fiquei estranhamente feliz quando o vi engolindo uma delas. E olha que era a mais bonita. Meu peixe ficou gordo de cores. Esperando ser transformado em menina tola, acompanhada de animais... .dos dias vazios em que chego em casa e me sento ao seu lado, 'procurando coisas sem nome'

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